Thursday, February 5, 2009

Pseudo-estúpido

Tendo em consideração que não tenho muita coisa para fazer hoje e tendo eu, sempre, tanta coisa desinteressante dentro de mim - o que me vale é que por fora sou bonito -, decidi pedir-vos ajuda na minha demanda pelo grande esclarecimento: o que é um pseudo-estúpido?

É, posso quase garantir, algo que há muito vos intriga igualmente.

O pseudo-intelectual é o quase intelectual, é o falso intelectual, é o que aspira. É, resumindo, alguém de que ninguém gosta muito porque se lhe sente uma mentira. Que dizer, porém, de alguém que é quase estúpido, falso estúpido, o que aspira a ser estúpido?

Fiz um teste: juntei quatro pessoas na minha sala, sentei-as no sofá e perguntei-lhes: Já leu Eça de Queiroz?

Simples pergunta, creio.

Eis as respostas:

Intelectual:

- Hã?

Pseudo-intelectual:

- Li, evidentemente que li, não li eu outra coisa, Eça de Queiroz, claro que sim. Os Maias, li os Maias.

Pseudo-estúpido:

- Li.

Estúpido:

- Hã?

Ora bem: posto isto, conduzi uma série de testes, demorados, e cheguei à conclusão de que dos quatro apenas um tinha, além de mim, lido Eça de Queiroz: o intelectual. Mas eu não conto, porque eu nem sei que sou quanto mais o que aspiro a ser.

O «hã?» do intelectual, percebi depois, prendeu-se com o espanto provocado pela pergunta. Teria dado a mesma resposta se eu lhe tivesse perguntado coisas como: já respirou alguma vez?; já comeu torta de laranja?; já fantasiou com uma colega de trabalho?; já votou num partido de que publicamente não gosta?

O pseudo-intelectual, que não leu Eça de Queiroz, nem sequer os Maias, nem sequer os resumos da Europa-América, nada, disse que sim, porque sabia que se fosse sincero e assumisse a sua ignorância isso faria dele uma besta.

O estúpido respondeu também «hã?» porque, verdadeiramente, nem sequer percebeu a pergunta.

Mas é o pseudo-estúpido que me interessa. O que respondeu apenas «li», é nele que me concentro.

O que busco saber é: o pseudo-estúpido é menos estúpido do que o estúpido, porque afinal é apenas quase estúpido?; ou será o pseudo-estúpido mais estúpido que o estúpido pela simples razão de que aspira a ser estúpido enquanto o estúpido, coitado, apenas é estúpido porque não tem escolha?

Isto, claro, coloca o pseudo-intelectual no mesmo dilema, ainda que num patamar diferente: é mais intelectual do que o próprio intelectual pelo simples facto de que aspira a um determinado nível de intelectualidade ou é menos intelectual do que o intelectual porque, dizem os termos, é apenas quase intelectual?

Sinceramente, não sei. O que sei é que tanto o intelectual como o estúpido responderam «hã?» à minha pergunta.

Depois, servi-lhes quatro cafés da Nespresso. Melhor dizendo: um café para o estúpido e três descafeinados para os outros, que me pareceram muito nervosos com as minhas perguntas.