Não tenho por hábito escrever sequelas dos meus textos – julgo sempre que um já basta; excepto quanto opto por não abordar determinado tema, porque me irrita, e nesse caso posso, eventualmente, não escrever sobre esse tema não apenas uma vez mas duas e às vezes até mais – mas a leitura e releitura das declarações do bispo tradicionalista católico – chiça, que só falta democrata-cristão! – Richard Williamson, em que este inglês duvidava do assassínio de judeus em câmaras de gás nazis fez-me, afinal, progredir na dissertação do pseudo-estúpido.
Carta aberta a um bispo tradicionalista católico democrata cristão pseudo-estúpido de nome Richard Williamson:
Sua alteza,
espero que a tradução que encontrou deste meu texto para inglês não seja, antes de mais, enganadora ao ponto de traduzir porquinho-da-índia por porquinho-da-guiné, porque afinal em inglês é guinea pig e não india pig. Enfim, não nos percamos por atalhos.
Você está entradote, pelo que a sua memória das coisas está, imagino, decrescente. Nesse sentido, partilharei consigo experiências pessoais ao nível da memória e dos seus intrincados jogos no cérebro.
Começo pelo Senhor dos Anéis, pois dessa forma popularizarei uma questão pessoal e poderemos falar sobre ela sem que eu me sinta privilegiado na informação. Gosto tanto da escrita de Tolkien e admiro de tal forma a prodigiosa imaginação do autor que, sinceramente, leio e releio até que, um dia, tudo aquilo seja realmente verdade para mim e deixe de ser ficção para ser, enfim, história na minha cabeça.
Há, no entanto, tanto detalhe subjacente, tanta raça, tanto mundo, tanto guarda-roupa, tanta maldade figurada e bondade guerreira que, de cada vez que leio, parece que esqueço algo na exacta medida em que noutra coisa reparo pela primeira vez. Percebe: é um constante trabalho de esquecer e aprender ao mesmo tempo.
Já, como você e qualquer outra pessoa, li e reli e vi quase tudo sobre nazismo. Estou, imagine, a ler A Noite, de Elie Wiesel. O senhor disse que disse o que disse numa entrevista a uma televisão sueca atendendo às investigações que fez na década de 80; o livro a que me refiro é de 1958, talvez o possa, ainda, anexar às investigações.
Neste caso, pelo menos comigo, a memória brinca com o cérebro de maneira diferente da experiência do Senhor dos Anéis: leio e releio, vejo e revejo, ouço e ouço outra vez, admiro-me. Já passei até, como turista, veja lá, num campo de concentração e foi a coisa mais próxima que tive de sonhar acordado. O estranho, no entanto, é que de cada vez que me contam, leio ou vejo espanto-me como se fosse a primeira.
É crente nesta esperança de que consigo se passe o mesmo, de que viva neste estado de negação da própria memória, que o considero apenas pseudo-estúpido e não estúpido na verdadeira acepção da palavra.
Só para acabar: se eu escrever aqui constipação, espero que o seu tradutor automático não escolha constipated; e se eu escrever prisão de ventre, ao menos que traduza para boca fechada.
Saturday, February 7, 2009
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5 comments:
Se eu digo que não houve câmaras de gás é porque não houve! O que houve, isso sim, foram câmaras de peidinhos, isso sim, de peidinhos!
será que veio cá ter através dos india pigs?
Achas que os bispos portugueses vão chamá-lo para os ajudar a convencer a malta a não votar PS por causa do casamento homossexual? Ou é câmara de gás com eles e pronto?
Câmara de gases, no mínimo, de peidinhos e bufas, no mínimo. heheh
Hã?
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