Saturday, February 7, 2009

Pseudo-estúpido - parte 2

Não tenho por hábito escrever sequelas dos meus textos – julgo sempre que um já basta; excepto quanto opto por não abordar determinado tema, porque me irrita, e nesse caso posso, eventualmente, não escrever sobre esse tema não apenas uma vez mas duas e às vezes até mais – mas a leitura e releitura das declarações do bispo tradicionalista católico – chiça, que só falta democrata-cristão! – Richard Williamson, em que este inglês duvidava do assassínio de judeus em câmaras de gás nazis fez-me, afinal, progredir na dissertação do pseudo-estúpido.

Carta aberta a um bispo tradicionalista católico democrata cristão pseudo-estúpido de nome Richard Williamson:

Sua alteza,

espero que a tradução que encontrou deste meu texto para inglês não seja, antes de mais, enganadora ao ponto de traduzir porquinho-da-índia por porquinho-da-guiné, porque afinal em inglês é guinea pig e não india pig. Enfim, não nos percamos por atalhos.

Você está entradote, pelo que a sua memória das coisas está, imagino, decrescente. Nesse sentido, partilharei consigo experiências pessoais ao nível da memória e dos seus intrincados jogos no cérebro.

Começo pelo Senhor dos Anéis, pois dessa forma popularizarei uma questão pessoal e poderemos falar sobre ela sem que eu me sinta privilegiado na informação. Gosto tanto da escrita de Tolkien e admiro de tal forma a prodigiosa imaginação do autor que, sinceramente, leio e releio até que, um dia, tudo aquilo seja realmente verdade para mim e deixe de ser ficção para ser, enfim, história na minha cabeça.

Há, no entanto, tanto detalhe subjacente, tanta raça, tanto mundo, tanto guarda-roupa, tanta maldade figurada e bondade guerreira que, de cada vez que leio, parece que esqueço algo na exacta medida em que noutra coisa reparo pela primeira vez. Percebe: é um constante trabalho de esquecer e aprender ao mesmo tempo.

Já, como você e qualquer outra pessoa, li e reli e vi quase tudo sobre nazismo. Estou, imagine, a ler A Noite, de Elie Wiesel. O senhor disse que disse o que disse numa entrevista a uma televisão sueca atendendo às investigações que fez na década de 80; o livro a que me refiro é de 1958, talvez o possa, ainda, anexar às investigações.

Neste caso, pelo menos comigo, a memória brinca com o cérebro de maneira diferente da experiência do Senhor dos Anéis: leio e releio, vejo e revejo, ouço e ouço outra vez, admiro-me. Já passei até, como turista, veja lá, num campo de concentração e foi a coisa mais próxima que tive de sonhar acordado. O estranho, no entanto, é que de cada vez que me contam, leio ou vejo espanto-me como se fosse a primeira.

É crente nesta esperança de que consigo se passe o mesmo, de que viva neste estado de negação da própria memória, que o considero apenas pseudo-estúpido e não estúpido na verdadeira acepção da palavra.

Só para acabar: se eu escrever aqui constipação, espero que o seu tradutor automático não escolha constipated; e se eu escrever prisão de ventre, ao menos que traduza para boca fechada.

5 comments:

Anonymous said...

Se eu digo que não houve câmaras de gás é porque não houve! O que houve, isso sim, foram câmaras de peidinhos, isso sim, de peidinhos!

innocent bystander said...

será que veio cá ter através dos india pigs?

Alexandre Pereira said...

Achas que os bispos portugueses vão chamá-lo para os ajudar a convencer a malta a não votar PS por causa do casamento homossexual? Ou é câmara de gás com eles e pronto?

Lunatic on the grass said...

Câmara de gases, no mínimo, de peidinhos e bufas, no mínimo. heheh

bf said...

Hã?