Tenho um respeito que roça - não diria que roça sexualmente, diria que apenas roça mas um roçar que fica antes do esfregar, que é quase uma casualidade no metro, um roçar que está, efectivamente, mais perto do mero encontrão -; bem, dizia: tenho um respeito que roça a admiração pelos chamados adágios populares, aqueles que ninguém sabe de onde vêm - e eu que até tenho aqui um livro chamado O Grande Livro dos Provérbios, de João Pedro Machado.
Nele procurei, sem bom resultado, a razão pela qual pisar merda dá sorte.
Conheço gente, gente muito triste, que já pisou merda de propósito como quem fez cruzes no euromilhões mas nada. Mas tenho respeito porque acho que mesmo os adágios e os sentimentos populares mais idiotas são, no fundo, visões do futuro.
«Um dia haverá um telefone em cada uma das principais cidades dos Estados Unidos da América», Alexander Graham Bell.
Dir-se-ia que esta frase, de infeliz previsão, porque incrivelmente aquém, foi como pisar cagalhões para Graham Bell: uma frase de merda revelaria um génio.
O que quero dizer é o seguinte: pisar merda, bem como dizer merda, poderá até ser o grande negócio dentro de um século. Haverá pisadores oficiais de merda, creio, e a minha grande tristeza é esta sensação de que eu - que ao contrário do que se possa pensar sou mortal - não verei essa bela era.
Num dia destes, a chegar a casa, atravessei o jardim da praceta para cortar caminho e pisei um cagalhão com o pé esquerdo e outro com o direito. E não era merda da mesma estirpe, porque quando fui lavar as botas na banheira verifiquei consistências e aromas díspares.
«Um dia haverá pisadores oficiais de merda em todas as grandes cidades dos Estados Unidos da América», Lunatic on the grass.
Thursday, February 12, 2009
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8 comments:
Ganhaste! Fizeste-me rir...
Bem, era suposto ficar assinado... Tonta!
Não era para rir, são assuntos sérios.
eu ri-me. E agora?
Eu ainda estou a rir
Dois posts que só te engrandecem: escrevestes sobre merda e sobre Alcântara. Passo a expor uma pequena história com os dois ingredientes: Pouco depois do Natal, subíamos a Rua dos Lusíadas já noite alta, os candeeiros, como sempre, estavam meio fodidos. Um amigo mais desajeitado pisou um cagalhão que devia ser de grand danois. Acto contínuo à pisadela, exclama: foda-se, já pisei merda. Começa tudo a rir, incluíndo o meu irmão e a dizer: «Óh Frades,deixa estar que é dinheiro». Ele, furioso, dá um esticão com a perna a tentar livrar-se da bosta e esta, em voo certeiro, aterra na capeline nova do meu irmão. Quase se pegaram à porrada mas acabou tudo em bem -- à porta dos bolos, com o Frades a pedir guardanapos emprestados ao senhor e a limpar a capeline ao meu irmão.
605Forte: Assim está bem, nada como estar por dentro e ter uma história. Intlético-Belence, sempre um derby! hehehe, abraço. Aposto que esse Frades, hoje, está rico!
Os assuntos sérios dão-me sempre vontade de rir... É defeito.
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