Algo faz discutir a essência popular dos Santos Populares e as suas ligações ao cunho religioso, afinal falamos de santos. Ainda que a religião seja a coisa mais banal da humanidade, a cristã nunca me pareceu festiva – nem nos casamentos - nem dada a encher copos – sagrado vinho - nem a sardinhas e febras – maldita gula -; sempre desconfiei que isso das melhores coisas que há fossem ofertas do demónio, esse rufia boémio que se enfrasca nos nossos medos e se diverte com diversões evitadas pelos outros, que se alimenta do que nós temos medo de comer, sorri de tudo aquilo que achamos não ter piada.
E descer as ruas dos elevadores em direcção às praças cheias de gente e barulhos de música, artistas mascarados no palco, papéis e fitas e marchas num imenso carnaval barato, com a sensação de estar a andar para trás, de tão lento e penoso caminho, o carácter litúrgico da descida pelo trilho do elevador da Bica mesmo até lá abaixo, àquele pequeno inferno em nome dos Santos.
Terá Santo António sido expulso do céu como um anjo rebelado? Disseram-me que sim, há muito tempo numa esquina, onde um restaurante ainda existe e um dono chamado António, que quando estava bem disposto e fazia desconto nas bebidas chegavam mesmo a santificá-lo. Quando morrer, coitado, vai arrepender-se de tudo como nós ou viver numa descida ininterrupta até à festa.
Wednesday, June 13, 2007
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2 comments:
Excelente texto. Parabéns!
Também eu estive na Bica...10min, e voltei para casa.
Cumprimentos,
Maria João
Obrigado, Maria João.
Dez minutos é suficiente, podes crer, hehehe.
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