Cada mancha naquele trapo, uma medalha da vida, uma homenagem dos tempos.
- Se calhar é melhor mandares essa t-shirt fora.
Até as nódoas que desapareceram fazem parte dela. Noites de suor e cuspo, mais do que pingos de cerveja: pingos de várias marcas, nacionais e estrangeiras, quase um catálogo de cevadas; aqui e ali um ou outro resto de uma coisa qualquer, talvez vinho, uma bebida branca que nunca destoou numa camisola também ela branca, tela das memórias.
- Tem o colarinho descosido, acho que a deverias usar apenas para vir à praia e mesmo assim não sei bem.
Os tons amarelados debaixo dos braços, camadas dos jogos de futebol, talvez até um mau cheiro permanente que toda a gente vê bailar nos pelinhos do nariz. Menos eu. Um acastanhado de chocolate, um tom verde, muito disperso, de relva, parece-me também ao fundo encontrar algo de encarnado, que não sei se é de sangue de antanho ou do meu coração que agora se desfaz por dentro e me suja a roupa desta maneira.
- Por favor, não tragas mais essa t-shirt para a rua, usa-a só em casa. Para quando um dia for preciso pintar uma parede, ou isso.
Magoam-me, estas coisas. Sinto que nelas o tempo passa mais depressa do que nos relógios.
- Então pronto, fica na gaveta, não se manda fora, mas também não se veste. Fica guardada juntamente com as outras novas.
Isso.
Friday, June 29, 2007
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4 comments:
Então um filósofo deste calibre aceita que as "t-shirts que sentem" fiquem na gaveta? Humm... não sei se me convence.
maria joão maurício: também eu percebi que se a vestir muito ela fica definitivamente rasgada, acho que é isso, pois.
Estou com o mesmo problema na mítica t-shirt da ferramenta. O uso tornou-a frágil, mas continua a ser a preferida. Mas as críticas já são muitas...
bruno: não devemos ceder, não devemos, temos de resistir, temos de ser fortes. We march, from sacred Sparta, we march, for glory, 300 hundred of us, we march,
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