Tuesday, March 11, 2008

Escrever o nome

Escrevo o teu nome num papel, escrevo, escrevo, as letras são cicatrizes no corpo branco da página. O teu nome várias vezes, vezes seguidas, a mesma palavra para sempre forma novas palavras, novos sons que soam ao contrário, rapidamente no meu cérebro.

Escrevo, escrevo. A primeira coisa que aprendi a escrever foi o meu nome. A última coisa que escreverei será o teu. Agora que me vou embora, que me dizem que tenho de me ir embora, que me contam o tempo, que o meu tempo conta sinistramente até ao fim, não posso nem quero levar-te comigo. E por isso escrevo o teu nome num papel e gosto de o ler logo de seguida, vezes e vezes. Porque noutro dia, a ler este escritor – o escritor sou eu - aprendi que a única coisa que se leva verdadeiramente desta vida é aquilo que se lê; e que a única coisa que se deixa é o que se escreve. E por isso escrevo o teu nome, para que fiques cá para sempre enquanto eu tenho de me ir embora.

Escrever é o único pacto possível com o tempo.

3 comments:

Alexandre Pereira said...

O que se diz, amigo. O que se diz também fica. Acredita.

andrellv said...

foda-se...

Lunatic on the grass said...

xano: o que se diz fica escrito na cabeça, se calhar é isso.

the hr(símbolo marado)fn: ventania outra vez, acho bem, já era altura.