Conduzir bem é chegar primeiro. Há muito interiorizei a ideia de que todos os outros condutores querem chegar a minha casa antes de mim.
Nos semáforos olham-me de lado: certamente querem abrir-me o frigorífico e beber-me o último iogurte líquido da Adagio, desprezando de forma provocadora os mais baratos da Yoplait, para comer à colherada, ainda por cima sem pedaços. Pressinto até que mesmo aqueles que vão para o lado contrário vão para o mesmo sítio que eu, apenas por caminho diferente.
Por isso me tornei num piloto citadino, que vê classificativas onde os outros ruas; que vê boxes de reabastecimento onde os outros estações de serviço; público onde os incautos senhoras que estendem meias e toalhas de banho no primeiro andar.
Agradeço a meu pai ter herdado tão privilegiado entendimento. Permite-me, diariamente, chegar primeiro à minha casa. Jamais se verificou chegar à sala e outro repousar no meu lugar do sofá com cara de cheguei primeiro.
Dizia eu: o meu pai não conduz, foge à polícia. Para ele, qualquer operação stop é um embuste para o apanhar especificamente a ele, qualquer agente numa esquina é um enviado de uma milenar Irmandade que elege a cada década um condutor desprevenido para perseguir até ao derradeiro dia.
Bem, tenho de ir andando, vocês imaginam porquê.
Sunday, September 2, 2007
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