Às vezes chateia-me a literatura que não percebo. Ora vejamos:
«Ela parava no espaço como se o tempo não contasse, ela vivia apenas em si como se o mundo fosse dos outros. Eu ficava por ali perdido nos caminhos por mim traçados, sentado num comboio sem viagens, provando coisas sem sabores.
De cada vez que as noites duram assim, como se a manhã fosse a coisa mais distante a inventar. De cada vez que a única coisa em comum que temos é a outra margem, ao fundo, para onde olhamos como se nenhum de nós estivesse aqui, como se o tempo fosse mais importante que o espaço e nos apetecesse sair daqui para ir passear no ontem»
Escrevi isto devia ter uns 16 anos ou 17, dei por estas coisas num bloco muito antigo. Hoje não faço ideia do que significam e fico danado por sentir que a coisa teve, certamente, um poder qualquer quando foi escrita. E hoje é um resto.
Já li muita coisa que não percebi, muitos autores que descubro em esforço, mas esta é, enfim, a descoberta da minha literatura afundada no oceano, a minha litortura, palavra que não existe mas que inventei para as coisas que escrevi e me fizeram doer. Litortura.
Thursday, July 19, 2007
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2 comments:
Que pena não ter conhecido, com 16 ou 17 anos, rapazes de 16 ou 17 anos, que escrevessem coisas destas em blocos! Mesmo que não se perceba!
Opá, tenho muita dessa litortura. Leio e deixa-me com um sorriso nos lábios... "que queridinha, que complicada". Os anos passam e ficamos mais simples. Penso eu... É bom que assim seja. A litortura é boa, para os nossos arquivos. :)
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