- Pá, pá, digam-me lá: se um porco tem quatro pernas, então de onde vem o fiambre de perna extra?
Hahahaha, riem-se as pessoas na mesa do café.
Fico constrangido ao ponto de às vezes não me conseguir rir mesmo que ache piada. Por outro lado, se não achar piada sinto-me forçado a sorrir. Uma anedota não é uma anedota, é uma imposição ao meu estado de espírito, é algo que me vira ao contrário.
Apetece alimentar a laracha até lhe sugar a comédia.
- Não percebi.
- Não percebeste, então? Se só tem quatro pernas, qual será a perna extra?
- Não sei.
- Então, é, tipo, outro membro, hehehe, estás a ver?
- Pretendes com isso afirmar que o fiambre de perna extra é feito das pichas dos porcos?
- Sim, quer dizer, a piada é essa.
- Qual é a piada de comer fiambre feito de picha de porco?
- Mas não se come a sério, o de perna extra é de perna como as outras.
- ...
- Não era a sério. Agora que me fizeste as perguntas tornaste a piada numa situação que deixa de ter piada, uma anti-piada.
Percebem o que quero dizer? A anedota, em si, no fundo, é como eu: virada ao contrário perde-se no sentido. As coisas engraçadas são as que acontecem e só muito raramente as que se contam. É por isso que me sinto triste com este meu último post, este aqui em baixo sobre fazer o amor dentro de uma carruagem de metro. Sujeito-me a que alguém me pergunte:
- Mas sabes o que quer dizer metrossexual ou és estúpido?
E eu lá teria de responder:
- Não era a sério. Agora que me fizeste as perguntas tornaste a piada numa situação que deixa de ter piada, uma anti-piada.
Acabemos com as piadas, fiquemos sisudos.