Não havia coisas suficientes. Ficava-se ali, dactilógrafo do nada, de lápis na mão atento aos ditados do vento. A mãe, da cozinha, o cheiro a alho nos bifes: Jantar, venham jantar, vai chamar o teu pai à sala.
No caminho até à mesa desviava-se dos barulhos, estava tudo desligado, as notícias da televisão, o pai a dizer que não via o filho estudar há tempos, silêncios em cima uns dos outros, concertados, orquestrados pela mão que cortava infantilmente o vento e fazia zum com o lápis marcado pelos dentes.
Há coisas de mais. Com tanta coisa para se escrever, apetece fazê-lo sobre os tempos em que nada havia, quando tudo parecia escrito e qualquer ideia era repetida. As folhas morriam riscadas. Se houvesse um cemitério desses tempos, era lá que nascia o vento, entre as lápides da imaginação. Quando há coisas de mais parece que nada interessa. Mais depressa se lê uma folha em branco do que outra cheia de nada.
Sunday, May 20, 2007
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