A internet acabou, finalmente. Resistimos aqui debaixo destas ruínas, tememos que aquela parede de carros que empilhámos para bloquear a entrada não os sustenha muito mais, eles gritam desesperadamente por nós, querem-nos derretidos em cabos de tensão da mesma maneira como estão todos os outros, a escorrer pelo metal até ao chão.
A internet acabou, foi a nossa primeira vitória, a mera visão do que nós temos deixou-os em guerra uns com os outros, uma guerra de destruição simultânea que desactivou todas as energias. Só resta a natureza ao que resta da humanidade.
Mas falta-nos uma segunda vitória agora: fugir deles, que ainda precisam disto, de tão precioso se tornou.
Quando há anos todas as árvores do planeta foram cortadas, o papel, já fora de uso, passou a ser impossível. A noção de registo, de presença, de físico, foi a primeira vitória deles. Falta-lhes a segunda: exterminar-nos.
A informação passou a circular de endereço para endereço, perdeu compromisso, começou a fugir das pessoas quando antes ficava quieta à espera que as pessoas fossem ter com ela, a lei deixou de ter rosto. Perdemos os espelhos da nossa cultura, somos os vampiros destes tempos, nada nos reflecte.
A culpa é deles. Lá fora, estão a começar a afastar os carros, sabem que estamos aqui. Não sei como eles são ao certo, só os ouço, só os imagino. Talvez nem existam realmente, talvez só nós existamos por fim e eu de tão só já deseje inimigos.
Eles querem acabar connosco: comigo e com este papel onde escrevo.
Friday, January 4, 2008
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3 comments:
«Você sabe que eu sei que você sabe.» A Mizé e o Paulinho achavam que sim, não vivessem eles no reino da suposição.
Já eu, sei que tu sabes que eu sei e que tu sabes. Juro que isto não mete poncha, mas muito a-na-nás!
Adorei o Lynch. Mas não sou o sapo, pois não? Juro que não é da poncha.
Gostei de reler-te. Volta sempre que eu voltarei também.
Curioso... no dia em que te recomendei borges vou ao teu blog e vejo um textículo que muito borges me lembra.
Curioso.
Eu pessoalmente, prezo tanto o papel como a internet.
Viva o saber.
cat: sê bem-vinda aqui a este espaço onde às vezes, vê lá bem, até chegam mesmo a passar-se coisas. E situações. Poncha não mete, pois não, hehehe. Volta sempre pois, eu ando por aqui.
the hr(foda-se para este símbolo)fn:textículo lembra-lhe colhão. Wuss.
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