A sala no Metropolitan Museum of New York chama-se Sala do Templo de Dendur por uma razão: porque nada mais tem. São oitocentos metros quadrados com uma entrada, uma lateral de vidro para o Central Park e, ao meio, o templo, oferta do Egipto.
Passa uma senhora americana, com duas amigas, que tem dúvidas.
- Desculpe, pode-me dizer onde é o templo?
O vigilante, coitado, abre a mão quase sem a tirar do bolso e nada diz: é aqui, o templo é isto, como é possível que você não perceba que o templo é esta construção de pedra à sua frente, numa sala onde nada há além disto!
À frente dos olhos, claro, o museu erguia-se inevitável, a colocar ainda mais sombra sobre tão escusada pergunta.
E ela: ah, pois é.
Mas Nova Iorque tem a faculdade fantástica de nada ter a ver com as pessoas. A ideia de que se entra num novo país sempre que se muda de loja, restaurante ou mercearia Coreia, China, Japão, México, Portugal, Irlanda, Espanha, impede que a cidade tenha alguma coisa a ver com pessoas ainda que lá estejam oito milhões.
A mistura é tanta que não há identidade possível.
São as ruas sujas e as torres de Babel que tocam no céu, as luzes na cara, é uma cidade de brincar para gente grande. São trinta quarteirões de contos de fadas e 30 mil de histórias reais. Mas não são as pessoas.
São os edifícios que são gente. O Chrysler Building por exemplo: não se pode visitar além do átrio, muito menos subir ao topo; não tem exposições, não é o mais alto, não é o mais bonito. Não é nada além daquilo que é: o Chrysler Building. Haverá melhor definição de personalidade?
A gente, ali, conta realmente pouco, vive na confusão de templos.
Por isso pergunta a senhora, à frente de um deles, onde é que um deles fica. E o que parecia estúpido é apenas humano.
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