Sunday, April 19, 2009

Havia um teclado que só tinha números e não tinha letras, pelo que as frases que dele saíam para o ecrã nada mais eram do que contas mal feitas. Mas pior do que isso, quem as lia era um abutre vegetariano, que só comia alfaces estragadas, pelo que ao perceber que ali havia qualquer coisa que não batia certo, foi direito à parede e começou às cabeçadas até que o vizinho do lado, que estava sentado numa nuvem de fumo a fumar cigarros de ananás, foi pegar no cabo da vassoura, varreu o chão que já precisava e de repente atirou-se da janela do rés-do-chão, mas a queda até ao piso menos quatro do edifício partiu-lhe uma perna. Posto isto, ao chegar ao hospital, arrancou a cabeça da porteira, que era feita de chocolate, mas não ficou muito admirado, porque no céu debaixo dele passavam gaiolas sem pássaros. Os pássaros, evidentemente, estavam no lago a fugir dos peixes voadores que queriam era aprender a nadar no alcatrão ao lado das bicicletas.
Para não variar, chegou a polícia e disse: «Está tudo preso.» Eu, que ia apenas a passar em forma de sombra, apaguei as luzes da rua e, sem luzes, ninguém me podia ver, porque eu era uma sombra e as sombras, mesmo que escrevam em teclados que só têm números e não letras, que ironia, só aparecem quando há luzes e não faz por isso sentido que alguém diga que tem medo de sombras que à noite lhe aparecem no quarto escuro. Nisto, passa o comboio que ia para a Patagónia, cheio de trapezistas russas e de jogadoras de voleibol italianas, contudo a dizerem, em francês, que iam parar em todos os apeadeiros e que a viagem ia ser longa. Caramba, pensei eu, que só era visto porque havia um candeeiro a petróleo que, sacana, se escondia atrás de mim para os outros me verem. Entrei, porém, no vagão e lá dentro, afinal, nem trapezistas nem voleibolistas, apenas interruptores com dedadas de mandril e uns cães enfezados que diziam uns para os outros que os ensinamentos de Heiddegger não eram nada fáceis de dividir em momentos. E dizia o outro cão, já chateado com tanta parvoíce: «Miau, mas é, que vocês nem falar sabem, quanto mais escrever nestes teclados de números!»
Em chegando à estação, estava lá toda a gente do Mundo inteiro, um bocado apertados porque são muitos e a estação tinha uma sala de espera pequena, mas eu, assim a atirar para o sombreado, agradeci a todos a presença, porque a viagem, parecendo que não, tinha durado bem mais do que um aguaceiro. E alguém, lá no meio dos alguéns, me disse: «Lá estás tu a confundir o tempo com a meteorologia, porque os relógios não dão dias de sol, caraças!» Ficaram à espera da resposta, mas achei que o melhor era gritar golo, todavia disseram-me que tinha sido claramente falta de um telefone com fios que julgava que era um telemóvel e andava de um bolso para o outro a fazer rasteiras com o fio a julgar que ninguém dava por ele. O cabrão! Fomos todos embora, que a sala era, relembro, apertada, e lá fora começámos a respirar copos de água e um forreta disse: «Eu não pago uma rodada a esta malta toda, que ainda me custa alguns dois livros feitos de espuma de Super Bock.» Bem, foi tal a confusão que quando dei por mim estava aqui e a pensar numa maneira de voltar.

4 comments:

innocent bystander said...

Olhe, desculpe, eu só queria saber onde é a estátua de Viriato...

Lunatic on the grass said...

a última vez que a vi ia a passar com um chinelo na boca.

bf said...

Devia ter um aviso:
LER DEPOIS DE FUMAR UMA GANZA

Lunatic on the grass said...

Ou mesmo: escrever depois de fumar uma ganza. heheheh