Deitado no banco da paragem, os autocarros passam, com cargas e descargas. Até que finalmente entrou num, comprou um bilhete para um sítio que não sabia qual, não espreitou ou perguntou. A vida era aquilo, depois de tudo o que lhe acontecera as únicas regras possíveis de cumprir eram o acaso e o esquecimento. Ele não queria saber de lugares para onde ir. Por ele, esperaria para sempre um comboio sentado num carril.
Ela entrou a correr para a porta, por segundos perderia exactamente aquele autocarro e isso seria do mais raro que podia haver. Penteada e pintada, era um prato completo de beleza, com aperitivos, entradas, refeição, sobremesa, café e digestivos. O brilho das roupas, a determinação nos olhos ao dizer coisas tão simples como bom dia. A felicidade, a noção de ocupar o espaço e o tempo queridos. Jamais aceitaria perder o norte, tinha uma bússola no coração.
À noite, ao voltar para casa, ela chegou à paragem dois minutos antes do autocarro. Perfeito. Ele estava sentado por ali, como se aquele banco não fosse mais que outro qualquer e tivesse vista para qualquer lugar que se imaginasse. Ela estranhou e perguntou-lhe para onde ele ia:
- Vinha para aqui.
Ele fez o mesmo: para onde ia ela?
- Esqueci-me.
Tuesday, November 20, 2007
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