Saturday, February 17, 2007

Quem és tu, rameira?



Yasmine Bleeth era tudo o que me faltava então: mamas. Fui procurá-la, navegar em águas que julgava vivas. Dei com isto: esta agarrada com ar de comida, erodida. Parece que anda assim há anos, andou por clínicas. Maré vazia na minha praia das memórias.

Friday, February 16, 2007

Apanhados


Quando saíamos, a suspeita era a mesma. Na conversa que desce as escadas até à rua: desconfio que aqueles dois, depois de nós sairmos.
Mas certezas eram miragens. À noite, nos regressos: lá estavam ele, o tubarão, e ela, a ovelha, de olhares de peluche, desprovidos de vida e culpa.
Num dia destes, na escada, decidimos subir, com a máquina de fotografar no coldre, pistoleiros aos tiros às dúvidas. Foram apanhados, sacanas.

Monday, February 12, 2007

Pink e Pink Floyd numa discussão conjugal



You took my hand, you showed me how
You promised me you'd be around
Uh huh, that's right

Relax.
I need some information first.
Just the basic facts: Can you show me where it hurts?

If someone said: "Three years from now You'd be long gone."
I'd stand up and punch them out'Cause they're all wrong
I know better'Cause you said "forever and ever"Who knew?

There is no pain, you are receding. A distant ships smoke on the horizon. You are only coming through in waves. Your lips move but I cant hear what youre sayin. When I was a child I had a fever.My hands felt just like two balloons. Now I got that feeling once again. I cant explain, you would not understand. This is not how I am. I have become comfortably numb.

Sunday, February 11, 2007

Lisboa Tirith




Ser turista em Lisboa foi a primeira vez. Amarrei a burra no largo do Carmo, onde os turistas desesperam por cheirar cravos e uma guia baixinha de chapéu ensina alemães: «He was like Hitler but not as bad.» No elevador, bebi um euro e meio de café entre espanhóis. Desconfio que apareci, sem querer, em cinco fotografias à paisagem. Fiz parte da paisagem. Hoje devo estar, além de estar aqui, numa moldura em cima de um móvel que ao fundo tem o castelo de São Jorge e eu, em primeiro plano turvo, sem que os espanhóis que me levaram num sorriso digital saibam quem sou. Paguei o café a um brasileiro, percebi por um panfleto que o estabelecimento se chama Heaven of Lisbon, inglês. Virei-me e afastei-me ainda mais de casa, que afinal é tão perto. As ruínas do Convento do Carmo, macacos me mordam, vistas dali, perspectiva rara, são Minas Tirith. Lisboa Terra Média e eu a pensar que personagem seria se me escrevessem três volumes disto.

Rocky Balboa ideia

«Nem todo o oceano de Neptuno lavaria o sangue das mãos desse Rocky», diria MacBeth. Eu, pessoalmente, acho que sim, que é à maneira. É humano, tem personagem, pessoal. O actor, todos sabem, é tão mau que até isso o torna humano. E os humanos fazem falta, excepto aqueles que cantam António Variações.

Blog soa-me a náusea

A palavra blog soa-me a náusea, recorda-me um diálogo desesperado com a sanita, de joelhos, quase uma reza, a jurar que é a última vez. Blog, blog, nunca mais bebo tanto. Blog. Mas sobre náuseas, convenhamos, até Sartre já escreveu, pelo que não pode ser nefasto a esse ponto. Dei por mim a atribuir-me importância suficiente para delimitar este cantinho e escrever sobre o que se vai passando. Às vezes apetece-me contar coisas que me aconteceram um dia destes e não conto, porque me apetece escrevê-las ainda mais do que contá-las. Pois então: um dia destes.